domingo, 8 de junho de 2008

Tempo x Trabalho na era do Capitalismo Industrial

O historiador inglês E. P. Thompson no seu artigo Tempo, Disciplina de Trabalho e Capitalismo Industrial, buscou através dos costumes dos povos primitivos, comunidades de pequenos agricultores e pescadores em suas tarefas diárias, a notação de tempo.

A notação de tempo que surge tem sido descrita como "orientação pelas tarefas", segundo Thompson elas se tornam um problema quando se emprega "mão-de obra", pois "a economia familiar do pequeno agricultor pode ser orientada pelas tarefas, mas em seu interior pode haver divisão de trabalho", nesse caso o tempo começa a se transformar em dinheiro.

"Aqueles que são contratados experienciam uma distinção entre o tempo do empregador e o seu "próprio" tempo. E o empregador deve usar o tempo de sua mão-de-obra e cuidar para que não seja desperdiçado: o que predomina não é a tarefa, mas o valor do tempo quando reduzem a dinheiro. O tempo agora é moeda: ninguém passa o tempo, e sim o gasta." (Thompson, 2005, p.,272).

Thompson descreve que a partir da Revolução Industrial no séc. XVIII em diante, o relógio passou a ser um símbolo de status. Após o ano de 1790 haviam muitos relógios no país 0 símbolo de "luxo" mudou para "conveniência". Nessa época houve então "uma difusão geral de relógios portáteis e não portáteis, no exato momento em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho". Com isso o relógio passou a regular o ritmo de vida industrial e ao mesmo tempo uma das mais novas necessidades que o capitalismo industrial exigia para impulsionar o seu avanço.

Havia uma preocupação simultânea "com a percepção do tempo e seu condicionamento tecnológico e com a medição do tempo como meio de exploração da mão-de-obra". Os donos de fábricas têxteis e as oficinas utilizavam a falta de conhecimento dos trabalhadores sobre o tempo para explorá-los. Em um relato de uma testemunha, ela afirma que trabalhavam no verão até onde podiam enxergar, pois somente os donos quem possuíam e podiam usar o relógio.

Segundo o autor, se antes os trabalhadores detinham o domínio sobre seu tempo, organizando-o pelas tarefas que realizavam e segundo suas necessidades, a nova disciplina industrial impunha a necessidade de que as tarefas passassem a ser organizadas pelo tempo, medido e determinado pelo relógio do empregador ou do patrão. A partir de então, o tempo deixava de ser um aliado para tornar-se um inimigo contra o qual o trabalhador lutava a fim de livrar-se de seu trabalho.

Na fase final da transição do capitalismo industrial, Thompson observou "uma reestruturação rigorosa dos hábitos de trabalho – novas disciplinas, novos estímulos, e uma nova natureza humana em que esses estímulos atuassem efetivamente”. Tal reestruturação, segundo Thompson, não era “uma questão de técnicas novas, mas de uma percepção mais aguçada dos empresários capitalistas empreendedores quanto ao uso parcimonioso do tempo.”

O grande problema enfrentado nessa reestruturação, foram as horas ociosas dos trabalhadores, havia uma grande preocupação com o tempo livre associado a não-produtividade. "Na sociedade capitalista madura, todo o tempo deve ser consumido, negociado, utilizado; é uma ofensa que a força de trabalho meramente "passe o tempo"."(Thompson ; 2005).

Enfim Thompson identificou que o controle do "não-trabalho" (ócio) foi importante para garantir o progresso do capitalismo industrial.

No próximo post veremos as mudanças que ocorreram, com relação a essa realidade, na sociedade pós-industrial.


Referências:

THOMPSON, E.P. “Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial”. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Um comentário:

Tiago Losso disse...

Notas sobre o post

- Trabalho muito bem feito!

- O tema selecionado, o título e inclusive a imagem foram corretamente selecionados;

- Algumas questões de precisão "historiográfica":

1- O autor realmente afirma que a Rev. Industrial ocorreu no século XVI, ou foi um erro de digitação de vocês? Convencionalmente, o início da Revolução Industrial é localizada no século XVIII.

2- O último parágrafo está confuso. Sugiro uma reflexão mais detida no que lá está escrito. O que exatamente vocês estão querendo indicar?

- Por último, um detalhe: vejam as referências ao texto, principalmente a última. Em cada uma delas vocês cometeram um erro de digitação.

- Parabéns pelo trabalho!